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sexta-feira, junho 04, 2010

Inescrita futura epístola do inane [in]discípulo pós-moderno (invejoso semi-heterônimo pessoano inexistente) ao alheio Mestre Caeiro

Mestre, em mim nada pude apascentar. Em meio ao alheio e evanescente deserto que me habita, quase nada te direi. Apenas desconheço qualquer, ou todo meu, rebanho negro, arisco e fugidio. Também estou só, mas sem nenhuma companhia abstrata. Absoluta e irreversivelmente só.
Não simulo nenhuma emoção. Não vejo fantasmas. Quanto à impossibilidade de pensar – não se pode pensar em meio às rochas (já escaladas por Elliot) –, um negror móvel e irrefreável se alastra na noturna – ou crepuscular? – paisagem invisível, feito imundo redemunho.
O único verdadeiro incômodo é ainda carecer escrever, esforço reconhecido e despropositado, a não ser como uma forma de sobrevivência autoexpressiva, talvez. Escrita sem préstimo algum, nenhuma expectação de leitura. Não um ato cortês, de visita a uma outra sensibilidade, mas de iniludível solidão.
Do cimo de lugar nenhum, posto de onde mesmo o que a vista avista é inverossímil e inadmissível ao acordo. Não penso, é certo – por suas lentes, seus versos, minha miopia é corrigida –, mas não compreendo porque vejo. Porque vejo melhor, não compreendo. Mera e frustrante tautologia sem qualquer préstimo.
De mim, Mestre, o acaso fez bem pouco caso – que poderia ele me dar? Fui de todo esquecido pelo fortuito – como poderia compreender? Ainda que não ande a procurar – tentar controlar –, nada encontro. Nada desespero.
Não tenho nenhum motivo, Mestre, para desejar que minha vida – ou mesmo eu – continue sempre a ser só isso, mas querer ser qualquer outra coisa, viva ou inanimada, seria querer ser fuga, ou não ser nada: apenas não-ser. Simular não seria mais que exercício pueril, impossível sem alguma fé cênica.
Se ouso abrir uma janela, word for windows, meu horizonte a alguns poucos metros é sólido concreto, ainda que virtual (as imagens nele projetadas são todas falsas – imagens do que não vejo). Se sei que meu dizer em [in]versos é surdo, só para mim. Nada mais importa (nalgum tempo, algo, ou alguém, terá sinceramente importado?) a quem sabe que não ficará. Nem como lembrança, rastro do que nunca não pôde nem ser visto.

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