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terça-feira, abril 13, 2010

Oráculo

E se o próprio deus Eu sou
ditasse a palavra ao seu ouvido:
“E veio a palavra do Senhor a Jonas”
(sim, você só poderia ser algo parecido,
o contumaz, o mais obstinado dos videntes)?

Ou se, pelo menos, alguma palavra qualquer,
qualquer palavra que fosse,
proveniente de qualquer vagabunda divindade,
o obrigasse à escrita,
ao amaldiçoado exercício da mediunidade
mais profunda, mas prontamente acabada?

Se você não precisasse caçar,
domar e adestrar competentemente
cada palavra necessária à sua dicção única,
ao seu dizer subjetivo e singular?

Se, afinal, não tivesse que se responsabilizar
pela autoria medíocre do que quer que pudesse escrevinhar?

Se fosse um erradio instrumento fugitivo (como o profeta),
mas imprescindível,
ainda que ao vulgar exercício expressivo diletante,
e apaixonadamente mórbido,
de uma inescapável potência exterior ao seu próprio querer?

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